segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cows from outer space


25 de Abril de 1974 – a estação orbital
Estacionada a ziliões de km do planeta
Regista a passagem, acoplada a um cometa,
De uma nave interestelar colossal
Que vem a despenhar-se, sem deixar marcas,
Num país algures em plena Europa.
Entre os destroços, abre-se uma porta
Donde sai um poderoso exército de vacas.
Estas vacas, emissárias de Hipócrito,
Um tirano alienígena com mau feitio,
O pior trambolho que o cosmos já pariu,
Estas vacas, dizia eu, vieram parar a sítio inóspito:
Este sítio, que não lembra ao diabo,
É a própria pátria do Camões e do Pessoa,
E é curioso que nessa altura, em Lisboa,
Siga a revolução, embora em tom moderado.
Ora, estas vacas são vacas, mas não são parvas –
Foram meticulosamente treinadas, são uma tropa de elite,
E enquanto não falta na rua quem grite,
Estas vacas, com artimanhas e bem calculadas palavras,
Conseguem, num acto inesperado, apossar-se do poder!
Muitas sobem ao palanque e, altissonantemente, mugem;
É a hora, meu senhores, de o altifalante perder a ferrugem,
E tem que ouvir mesmo quem não quiser…
As vacas não perdem tempo: novas ordens são decretadas,
Projectos de lei, um ror de regras ainda por inventar –
Cúmulo: as vacas chegam a proclamar-se ‘sagradas’
E com habilidade para tratar de assuntos sérios,
Até metendo o focinho na forragem do outono,
E também noutros assuntos, de que não percebem corno,
E assim ascendem a cargos de chefia nos ministérios.
A bem segura distância, e por controlo remoto,
Hipócrito comanda, de surra, a sua horda,
Que, ah!, já veste fatos, sorri, anda na moda,
Mesmo que à volta tudo descambe e dê pró torto.
Aliás, discretamente tudo se parece encaminhar
Para a instalação de um festim lúbrico,
Ainda por cima à conta do erário público…
Enquanto isso, as vacas, naturalmente, continuam a avacalhar,
E não tarda que, nas parangonas dos jornais,
Surjam notícias de tão notório avacalhamento:
Buracos, golpadas monumentais, derrapagens de orçamento,
E uns outros tantos esquemas e aldrabices mais!
Não tarda que o povo sua indignação já mostra
Perante as ditas vacas sagradas do poder,
Porque prometam lá o que irão fazer,
O que têm feito, quase sempre, é uma indescritível bosta!
Dão cabo, por completo, do asseio geral,
Pois, a cada vez que sua farfalhuda cauda se arreda,
Lá de dentro sai uma rajada sonora de merda,
Tanto que já mais parece uma vacaria Portugal!
Mas acaso alguém pergunta como delas nos livrar -
O que fazer com tais seres?, mandá-los p’ra onde?... -
É caso curioso, há sempre alguém que, bovinamente, responde:
‘Ah não, são sagradas, não se lhes pode tocar…’

El Rey Ninguém 
(cidadão de um povo que não tuge... nem muge!...)

Nota: imagem retirada de mashistoriaeso.blogspot.com

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