terça-feira, 17 de junho de 2014

Errata

Esses olhos bem abertos, Sr. Professor Vigilante, e…


Atenção! Informações adicionais:
Haverá “toques”…mas não rectais!
“Entrada” e “Saída”, também terão lugar,
Mas não aquelas em que estais a pensar…
“Chamada”, será feita quase em solilóquio;
Não confundir co’ as que se fazem p’ra Tóquio…
Cuidado co’ “Início de Prova” dos meninos,
Porque não é prova nem de queijos, nem de vinhos.
E os 5 minutos p’ra “Preenchimento do Cabeçalho”
Não são os preliminares doutro, bem melhor trabalho…
E depois da “Primeira”, 15 minutos de intervalo,
Duvido que cheguem p’ra revigorar o badalo!
Valham-nos, enfim, os tais minutos de tolerância,
Pois há quem, só a tentar, já se cansa.
Em suma: Deus traga logo o fim de todas as “partes”,
Senão ‘inda me saem…outros tantos disparates!

El Rey Ninguém

Nota: imagem de AJ Caseirão (in "Desenho: da Hipnose Regressiva")


quinta-feira, 1 de maio de 2014

Man infesto

Já andamos nós
Nestas tauromáquicas lides,
E eis que nos espetam
C’o exame do Cambridge!...
Mas que raio!
É mais uma out of the blue!
Eu já sei dizer kiss my ass,
E também fuck you!
Não chega?
Entre outras coisas mais,
Querem que saiba linking words,
Não sei quantos tempos verbais…
Tudo metido na cabeça
Co’a força de um rebite!
Nã percam tempo com isso,
Eu sou mesmo um piece o’ shit,
E se querem a minha opinião,
Que vale tanto como nada,
Ela aqui vai, então,
Para esta gente doutorada:


Metralham-nos c’o English,
Mas… e o Português?...
A língua do Camões, do Vieira, do Pessoa,
Inda não chegou a sua vez?...
Vamos deixar-nos de fachada,
Vamos deixar de ser moles,
Mostrar aos anglo-saxões
Que somos povo com…balls!
Eu quero escrever, e falar bem,
A língua que é o meu berço,
Pô-la ao serviço de outra
É demasiado alto preço!...
E por isso vos grito! Grito
Sem qualquer finesse:
Cambridge?... Está bem, está…
Fuck you, e kiss my ass!...

El Rey Ninguém
(linguisticamente patriótico…)

Nota: ilustração de AJ Caseirão, in Desenho: do Exército do Quinto Império.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Saída limpa, saída suja...

De qualquer espécie que se fale,
Parecer-me-á o resultado sempre igual:
Que exista ainda, ou esteja extinta,
Deu-lhes o Criador uma saída limpa.
Em contrapartida, deu-lhes uma outra dita cuja,
A que chamaremos, sem mais, de saída suja
Fácil é de se ver qual seja uma e outra:
A saída limpa, claro está, é a boca.
Entre muitas outras coisas, a ela lhe cabe
Ser saída do que corresponda à verdade.
Quanto à saída suja, basta ver um homem nu
P’ra se perceber que tal saída é o cu,
Saída, por sinal, que tem por triste sina
Libertar toda a sorte de matéria intestina –
Razão p’ra que dela, enfim, se fuja
E a tenham apodado, também, de suja
Deus assim fez as coisas, deste jeito,
No meu entender, diga-se, assaz perfeito,
Porque assim cada saída é para o que serve,
E o mundo vai girando certo, como deve…
No entanto, parecem ter surgido uns fariseus,
Os quais querem fazer as vezes de Deus.
Eivados do mais vil e baixo oportunismo,
Reformulam, a meu ver, as funções do organismo:
Já não se lhes distingue a boca da bunda,
E se falam, é seguro que a malta se confunda.
Discursando, é descarga sem dizer “água-vai”…
A gente não sabe sequer de que saída é que sai…
Falo por mim: estes tipos, que p’ra falácia têm queda,
Abrem a saída limpa, sim… mas só sai merda!

El Rey Ninguém
(num beco sem saída…)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Agarrá-lo pelos ditos!...

Há quem coma do melhor e do bom,
Sacie a sede com Cartuxa e Chandon,
Mas eu, que por tais farturas não passo,
Cinjo-me a pataniscas e bagaço
(Não deixam de ser coisa que enfarte),
E, por vezes mesmo, há mousse de chocolate,
Embora, naturalmente, instantânea –
Esta, assim, a minha dieta mediterrânica,
Que é q.b. p’ra sustentáculo
Deste tão pouco exigente receptáculo.
P’ra mais, é sabido que a aguardente
Faz o homem fraco valente,
E faz também, em estreita concomitância,
Que um homem esqueça que teve infância,
Ou que existiu, ou que existe sequer,
Pois é pior que paixão por mulher,
Não resta qualquer tino na cabeça
E é daí que, enfim, tudo se esqueça…
Outro efeito secundário do bagaçame
Sucede como se houvera derrame
Ou se batera co’ a cabeça na parede;
O mal primeiro é ter sede,
Como já se viu, e, quanto ao resto,
É resultado directo e incontesto.
Este dito efeito último,
O qual, como disse, não é único,
Faz com que eu veja a vida
Não às direitas, mas distorcida:
Tudo se exacerba, hiperboliza,
A realidade como que se desenraíza,
O mal aproveita, o bem não presta,
Tudo fica em proporção grotesca,
E eu, enfim, não sei a quantas ando,
Não sei onde estou, nem quando,
E nem me ralo, p’ra ser sincero,
Mais bagaço cala o desespero,
E assim, distorcida todavia,
A vida continua a ser vida,
E isso, p’ra mim, é quanto baste,
Vou de sucesso em desastre,
E vice-versa, ou versa-vício,
Enfim, ossos (ou fígado) do ofício…
Em suma: vejo uma coisa acontecer
E depois, passado o tempo do beber,
Recordo-a, mas sem qualquer exactidão.
Dizem tratar-se de uma alucinação,
Fruto de intelecto lasso,
Mundo visto através do bagaço,
Mas como nalguma hei-de fiar-me,
Não acho razão para alarme,
Pois, vá-se lá saber porquê,
A gente acredita, sim, mas no que vê,
E se isto não é, nem nunca foi,
Não será essa a ferida que me dói,
Nem quanto me faz frágil.
Vou demonstrar-vos, p’ra ser mais fácil:
Destes dias, do que me lembro?
Que andaram para aí num parlamento,
Não sei se congresso, comité, ou comício,
Com declarações estilo fogo-de-artifício,
Que estoiram no ar, fazem barulho,
Mas que no fim são só entulho
Com que nos enchem os ouvidos…
Lembro que, algures, estiveram reunidos,
Sendo o seu chefe destacado,
Vejam lá, um coelho engravatado,
Tendo, à ilharga, nas suas intervenções,
Outros coelhos enormes – dir-se-iam “coelhões”…
Consta que esta bicharada é que manda
E que é uma quadrilha nefanda,
Mas isto, convenço-me eu, é delírio
De quem tem no bagaço martírio,
Pois um coelho engravatado
Só pode ser ideia de tresloucado!
Deduzi, porém, das suas discussões,
Que p’ra chamar o coelho-mor a razões,
Há que agarrá-lo pelos outros, pelos “coelhões”,
Que esses sim, é que mandam nas decisões…
E agora, perante isto, o que faço?
Será tudo obra e graça do bagaço?
Não sei, nem quero sequer saber –
É que o que ganho…é quanto dá p’ra beber…

El Rey Ninguém

(notoriamente aguardentizado)