sexta-feira, 24 de junho de 2011

E vá cada um à sua!

Ora pois claro! À sua santa e devota mãezinha!....

  
Cardenal Mêtacarpo é home de gran sabedoria,
Pois afirma, sem hêsitar, sua Excelsa Senhoria
Que ter as fêmeas a exercer o devino sacerdócio
É questão ainda nã susceptível de negócio.
Nas palavras do venerando home da Cristandade,
Sacerdotizar é exclusivo de masc’lina sexualidade,
E portanto, no sê tom paternalista, ô paternal,
Diz que há que esperar por um devino senal
Que o todo-poderoso Sinhor Nosso Deus
Mande a esta terra de sameritanos i judeus.
Amanhê mesmo vô falar co’ Sinhor Cardenal,
Pois sendo ele o representante cá em Pertugal,
Deve ele saber (embora o omita, por resguardo),
O senal que co’ Nosso Sinhor terá ele combinado.
Ê cá pra mim tenho a ideia, com’outros têm,
De que o ter nascido das entranhas de minha mãe
Foi o senal más devino, a ma’or dádiva recebida,
Que foi minha mãe me ter concedido a vida.
Mas quer o estemado Cardenal duvidar, porventura,
Que é esse o ma’or senal dado à humana creatura,
De que à devina m’lher um ma’or papel incumbe?
Olhe que é senal a sério, nã é vislumbre,
I per isso, se ainda sês olhos à verdade nã abriu,
Dê ó menos valor à santa mãe qu’em tan bô dia o pariu!
Ámen!


El Rey Ninguém
(num dia em que se achou particularmente
prenhe de instintos maternais...)

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Mas já deu, ou ainda vai dar?...

'Mas vai dar o quê?...'

'Ora essa, meu caro, merda, meu caro, meeeeerda!...'

'Ah!...'

Portugal, jardim à beira-mar plantado,
Terra de Fátima, futebol e fado,
Causa, pela Europa, inveja e ciúme,
Pois não falta, nesse dito tal jardim,
Uma coisa tão preciosa, que é assim:
Fartura quanto baste do dito estrume.
Já tudo chegou a um ponto crítico,
Eu mesmo sou pelo correctamente político:
Calo-me, caladinho, quando devia falar,
Pois eu não fui feito para protestar
E nem a revoluções sou atreito...
Falo apenas quando me dá jeito,
E mesmo assim, se falo, dizem-me, com enfado:
'P'ra isso, mais valia estares calado!...'

E eu, como um rapazinho bem mandado,
Como o que interessa, e o que resta, ponho de lado!
Oh país de antiga glória e honor,
Jardim pontilhado de tanta flor,
Não foras tu um pasto de negrume,
Por obra e graça do tão divino estrume
Que medra e ferve sob os teus pés.



As entranhas mostram bem o que tu és,
O que te faz de todos ser inveja,
E para que há razão assaz sobeja:
É que estrume do bom, não há por aí ao pontapé,
E curti-lo bem, ainda mais difícil é.
Por isso, a verdade não azeda:
Neste país tudo deu, ou vai dar merda!,
O que é um ingrediente muito importante,
Pois o que vale é fertilizante,
E o resto, está visto, é conversa!
Falta cumprir Portugal?! Não tenham pressa,
Pois vendo tanta flor neste jardim,
Penso eu, cá bem de mim para mim:
Se o país não se cumpriu, mas também não morreu,
É, com certeza, por toda a merda que já deu...

terça-feira, 7 de junho de 2011

Mudam-se os governos...

Nesta fogueira das vaidades,
Mudam-se os governos e as vontades,
E neste vaivém das sociedades
Acontecem muitas novidades,
Com mais ou menos alardes,
Visando derrubar disparidades.

Acho bem! Há que fazer o necessário
Para que o antes proletário
Troque as voltas ao fadário,
E com o seu esforço diário
Suba o escadario do santuário
Onde se realiza o plenário.

Agora vai ser diferente:
Vai participar toda a gente
P’ra que isto vá p’ra a frente;
E quem não quiser que aguente,
Porque isto é força assaz potente
Que leva tudo na corrente.

E a primeira medida
P’ra que o povo mude de vida
É dar-lhe o poder que decida,
Tirá-lo do beco sem saída
Que é ter palavra proferida,
Mas tão poucas vezes ouvida.

Dantes, ia-se ao Parlamento,
Mas agora é outro o momento:
Gerou-se um tal movimento
Que, qualquer a raça ou sustento,
O cidadão cumpridor e isento
Pode exprimir-se a contento.

Se o Maomé não vai à montanha,
Então é esta que aquele apanha,
Podendo soar a coisa estranha,
Mas num país de patranha,
Onde se fazia fogo sem lenha
E onde se entrava sem senha,


Há que levar a Assembleia ao povo,
Que já é hora de algo novo:
Levar a galinha ao ovo,
Afastar tudo o que é estorvo,
Afugentar tudo o que é corvo,
E ao ‘antigamente’ pôr cobro.

Agora, vai-se aonde estiver a discussão,
Seja de barriga encostada ao balcão,
No estádio, no meio da multidão,
Na missa, antes e depois da procissão,
Ou no banco do táxi, a entabular conversação
Sobre os 1001 problemas da nação.

Chama-se a isso levar a democracia
Onde outrora, simplesmente, não havia.
Com este novo sistema, vai haver razia,
Pois onde antes tudo ou nada se discutia,
As balelas do Primeiro e os amantes da Maria,
O futuro vai chegar, por fim e de certeza, um dia


El Rey Ninguém
(sem saber se está com a vontade mudada,
ou com vontade de mudar...)

sábado, 4 de junho de 2011

Quanto mais a luta aquece...

Quando se abriu a Caixa de Pandora, vieram ao mundo males inúmeros. Os cientistas, a par com os filósofos e alquimistas, pensavam, até à data, que a Caixa de Pandora was one of a kind e não havia mais nenhuma que se lhe parecesse.
No entanto, têm corrido rumores de que, algures no leito do Tejo, enterrada entre cascalho e lodo, jaz uma Caixa cujos males superam, inimaginavelmente, os da Pandora original. É difícil de acreditar, mas desde que um grupo de físicos quânticos, frequentadores assíduos do Júlio de Matos, veio, igualmente, aventar a veracidade de tal teoria que, acima do Equador, anda tudo ‘ai ai, ai ai, ó tio, ó tio!’
Mais ainda, descobriu-se um texto, redigido pelo punho do próprio Nostramamus, que aponta nesse sentido. Num poema cuja rima, há que admiti-lo, é pobre, o conhecido profeta diz tratar-se essa caixa não de um repositório de males, mas do próprio Mal, tanto que o baptizou de… PS, isto é, trocado por miúdos, Pandora Super!
E a sigla sobrevive, porque, segundo reza a lenda, nomear esta box por inteiro pode fazê-la vir à superfície. Eis o manuscrito:

Quanto mais a luta aquece
Mais força tem o PS!
Quanto mais a dívida cresce,
Mais força tem o PS!
Quanto mais dinheiro desaparece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais a bolha se intumesce,
Mais força tem o PS!
Quanto mais a economia fenece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais o progresso emudece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais poleiro se oferece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais facilitismo floresce,
Mais força tem o PS!
Quanto mais tacho se agradece,
Mais força tem o PS!
Quando mais compadrio se tece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais barão se abastece,
Mais força tem o PS!
Quanta mais aristocracia se ensoberbece,
Mais força tem o PS!
Quanta mais demagogia se entretece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais o povo ensandece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais a plebe se embrutece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais a educação apodrece,
Mais força tem o PS!
Quanta mais justiça se esquece,
Mais força tem o PS!
Quanta mais podridão aparece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais vício recrudesce,
Mais força tem o PS!
Quanta mais cobiça se engrandece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais atraso acontece,
Mais força tem o PS!
Quanta mais mentira comece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais o rigor se amolece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais a injustiça endurece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais o bolso enrijece,
Mais força tem o PS!
Quanta mais pobreza se padece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais a auto-estima arrefece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais o peito se entristece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais a vida desfalece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais o coração se enfurece,
Mais força tem o PS!
Quanto mais Abril envelhece,
Mais força tem o PS!
Quanta mais revolta apetece,
Mais força tem o PS!...

E Nostramamus remata, em jeito de coda ao texto:

Bem, meus senhores, melhor mesmo é não abrir o PS,
Pelo menos assim parece…

E o documento termina com apontamentos avulsos do próprio Nostramamus sobre as hipóteses de o Benfica vir a ser campeão pró ano.
Quanto a nós, queira Deus que o Navio Escola Estragues, em pleno estuário, não baixe a âncora no sítio errado… ó tio, ó tio!

El Rey Ninguém
(em dia de profunda reflexão,
tão profunda quanto o leito do querido Tejo…)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Rui Urnas dixit!

Rui Urnas, um politólogo de indiscutível craveira, já deu o mote para Domingo. Disse ele, num rasgo de inspiração (um rasgo, aliás, literal, que o deixou de calças na mão): 

Eu não sei, mas quer-me cá parecer a mim –
E agora, portanto, estou bem certo de não ser menos –,
Que quando nos abeiramos, a passo acelerado, do fim,
Há talvez que avançar com remédios não dos pequenos

Contra esse rol de males ditos maiores.
Há quem se esvaia num queixume ou numa prece
Contra o império dos amiguismos e dos favores
Que sempre vêm na esteira de CDS, PSD ou PS,

E há uma outra coisa que eu noto
E que me parece senão antecipar novo desastre:
Que acabes por queimar o teu precioso voto

Votando nos mesmos – qual calhau ou tamanco! –
Vota antes em quem nunca tu votaste,
Ou, então, manda-os à fava, e vota em branco!


  El Rey Ninguém
(numa sondagem à boca... do Urnas!)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Os mesmos problemas... as velhas soluções?

Sobre Eduardo Retroga, um saudosista puro-sangue, escreveu-me há dias e a propósito, o Luís Vaz de Cifrões os seguintes versos, os quais me pareceram acertados e, eu diria mesmo, epifânicos, ou até, quase me atrevo a dizê-lo, uma "tábua de salvação" para os serious trouble com que nos debatemos:



Em todo e qualquer galinheiro,
Quem quer chegar ao poleiro
Faz-se acompanhar ao seu redor
Por quem jura fazer melhor
Do que aqueles que já lá estão.
Apresentam-se como parte da solução
E nunca, jamais, do problema.
Mas tais galináceos, de farta pena,
Que ora apontam caminho,
Também um dia fizeram ninho
E deram a sua contribuição
Para o actual estado da nação
Mas longe de nós qualquer crítica
Contra tais percursos na política;
Bem pelo contrário, faz todo o sentido
Não dar o passado por esquecido,
Pois ninguém melhor habilitado
Do que os que nos puseram tal fardo
Em cima dos costados,
Pois eles já não podem estar errados
(Errados estavam antes,
Quando ocupavam cargos importantes…),
Porque a solução, tão simples e afinal,
P’ra resgatar aos abutres Portugal,
Como todos já perceberam,
É só fazer ao contrário… do que eles fizeram!

El Rey Ninguém
(a aplicar a fórmula "Eureka",
na esteira da boa tradição arquimédica... ó-i-ó-ai!)