sábado, 25 de fevereiro de 2012

Boss D.C. in da house!


Boss D.C., figura de proa do movimento shit-shot da Terra de Ninguém, is in da house e vai improvisar até p’ra quem não quiser escutar:

Já só vive quem pode,
Já não vive quem queira,
O P.M. faz-me pobre,
Não pode ser doutra maneira;

Tanta saída para a crise,
Só vê uma num milhão,
Já há p’ra aí malta que diz
Que tem falta de visão.

As soluções? Há que procurá-las,
Acender a luz no escuro
E não usar duas palas,
Pôr-se a zurrar como um burro!

É ‘custe o que custar’,
Porque não te custa a ti,
Há meia-dúzia a engordar
C’os subsídios que eu perdi.

E não me chames ‘piegas’,
Que é p’ra ficares a saber
Que todos os dias faço pegas
À vida que me está a f*der!

Mas quem é que disse, afinal,
Que o país não é p’ra velhos?,
Se está entregue Portugal
Aos que não se ralam com ‘pentelhos’!...

Este país não é p’ra jovens,
Gente iludida como eu –
Emigrem, façam-se homens,
Porque este país já morreu!...

Yo, ‘tá-se bem!
(‘tá-se bem, mas não é aqui, de certeza…)

El Rey Ninguém
(num dia em que se rendeu ao hip-hop)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Autopoliticografia



O político finge todo o dia,
Finge de forma tão triste
Que chega a fingir democracia
Onde a democracia… já não existe.

E os que ouvem tal diabrete,
Na vida dura sentem bem,
Não a vida que ele promete,
Mas a vida que já não têm.

E nas calhas de roda, sem pressas,
Gira, a entreter o Zé Povinho,
Esse comboio de promessas
Que se chama Pedrinho…

El Rey Ninguém
(num dia em que se achou pessoano,
embora não necessariamente bem apessoado...)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O carneiro no carreiro

Afinal o mal desta carneirada
Não é Fátima, futebol, fado, ou farra!,
Mas o balir, dia inteiro, à desfilada,
E esquecer… como se marra!


Austeridade? Méééééééé!...
Mais austeridade? Mééééééééééééé!...


El Rey Ninguém
(quando for grande, quero ser pastor...)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Nova Mitologia da Velha Europa

Ah quem me dera um dia acordar um Mário Piegas (Mário da parte do pai, e Piegas da parte de ser português…), e declamar assim, à boca cheia, um poema, sei lá, talvez como… este:

Há muitos, mas mesmo muitos anos atrás,
Ainda bem antes do tempo do Luís Vaz,
Caminhou, sobre o que é hoje a velha Europa,
Um deus, que vagueava, sem destino e sem rota,
Procurando apenas, com tanto tempo de sobra,
Um recanto onde deixar feita a sua obra.
Este deus, por ser importante, era o deus Capital,
E conta-se que, andando, chegou por fim a Portugal,
Onde se sentou, à sombra, a repousar,
Num ponto donde via planura e mar.
Mirando, além, a planície encardida,
Lobrigou, num chaparral, a que era Árvore da Vida,
Mas como outros deuses já ali tinham passado,
Tal Árvore não era mais que um tronco mal amanhado
E, já esqueléticos, uns não sei quantos galhos retorcidos,
Sem folhas que se vissem, cheios de nós mortiços,
Pelo que o deus Capital muito se entristeceu,
E assim esteve, taciturno, até cair o breu…
E o frio que se fez sentir era de tal maneira
Que, de alguns galhos, o Capital ateou uma fogueira,
Para melhor suportar a dureza austera das condições
Que o acossavam desde todas as direcções.
Ao outro dia, enfim recomposto, o deus Capital
Já tinha outra disposição, e, como tal,
Deu-lhe a ideia, estando à cauda da velha Europa,
Pois (e era chegado o momento) de deitar mãos à obra!
E como deus que, afinal, era e podia,
Num gesto da mais pura criação e magia,
Pegou nos paus que sobravam e tinha à mão
E mandou-os, Europa fora, com a missão
De que, onde quer que chegassem, e por juramento,
Erguessem o que deveriam baptizar de parlamento,
Lugar sagrado e que deveria servir para algo
Tão importante como era, para o deus, a arte do diálogo,
Ou, se preferirem, e sem fugir ao que a história reza,
O lugar onde, afinal, o que mais há é conversa!
E foi assim que chegaram, inclusive a este nosso Portugal,
Ao parlamento, os paus mandados do Capital!...

El Rey Ninguém
(num dia em que se chegou 
particularmente afoito… a pieguices!)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Taverna do Pedrito


P’ra que se saiba: é na Taverna do Pedrito
Onde se come e bebe melhor:
Coirato assado, pipis, bacalhau frito…
Mas é do Coelho à Caçador
Que lhe advém uma tal fama sem fim,
(Que, aliás, lhe granjeou uma estrela Michelim)
Por ser prato de se perder o juízo!...
Entra-se de carteira cheia, barriga vazia,
E sai-se c’o bolso tragicamente liso
E com vontade de não voltar noutro dia,
P’ra não cair, inadvertidamente, na tentação
De um tão renomado prato, cuja confecção
Tem 1001 segredos, envoltos em mistério,
Os quais o cozinheiro-mor do Pedrito,
Paulo Cortas, chef tido por homem sério,
Mantém a salvo, como se tratara de um rito
Inacessível, inclusive, aos seus ajudantes,
Malta com experiência doutros restaurantes
E que, volta e meia, assim manda a vida,
Andam à cata duns tachos, ora essa,
A ver se em vez da pescada cozida
Caem chernes ou robalos na travessa;
E saem-se, normalmente, com cada receita,
Que a garganta de um homem é estreita
P’ra engolir tanta, mas tanta caldeirada!...
Mas a Taverna do Pedrito mantém a fama
De uma casa de pasto reputada:
O freguês come, cala, e não reclama,
E entre Coelho, cabrito, ou porco de pata preta,
Tem ainda que largar a gorjeta
Pró empregado, que é um tipo sisudo,
Que anda pela sala, a rondar,
E que, no que toca a gorjetas, arrebanha tudo!
Cabe a este Fulano, de sua graça Bictor Gastar,
Ter a certeza de que a Taverna do Pedrito
Não se muda em Taverna do Aflito!
Mas Pedrito, rapaz de obras desfeitas,
Tem, na manga, um naipe inteiro escondido,
E como é um tipo liberal e às direitas,
E sabendo que o Coelho é bem vendido,
Decide, sem pedir licença ou cortesia,
Fundar, do animal, a respectiva Confraria!
É claro que a Confraria não é p’ra todos –
Trata-se de um círculo dir-se-ia restrito,
Só p’ra aquela clientela com bons modos,
A quem deve favores o Pedrito,
Por ser gente, diz quem sabe, de muito honor,
Viscerais apreciadores desse Coelho à Caçador!
O Pedrito sabe o que faz, como se vê,
E manda, p’ra tão singular ocasião,
Abrir várias garrafas de E.D.P.,
Um vinho que nada tem de carrascão,
O qual, apurado em carvalho já velho,
Combina às maravilhas c’o tal prato do Coelho!
O primeiro confrade a ter que alargar o cinto,
P’ra aliviar uma pança já de si tão cheia,
Vem a ser o cliente Talo Peixeira Tinto -
Além do Coelho, diz-se que apreciador da alheira,
E outras iguarias da gastronomia da coelheira,
As quais não são, está visto, p’ra qualquer carteira;
Outro confrade cuja entrada se advoga,
Proprietário, outrossim, de um estômago alargado,
Vem a ser Educado Retroga,
Cliente de um gosto mui requintado,
Já que, no respeitante aos ditos coelhos,
É: “esfolados, sim, mas com pentelhos,”
O que, segundo afirma este gourmet,
Confere ao animal um paladar assaz distinto,
Isto enquanto, do afamado E.D.P.,
Prova quer do branco, quer do tinto! -
E.D.P., leia-se: “Especial Do Pedrito”,
Que é um vinho que não tem sulfito
E deixa a clientela da Confraria
Pois muito além de contente,
Já que o tal prato, afinal, só causa azia
A quem, pobre dele, não é cliente
Do Pedrito, e que, para cúmulo do azar,
Esfola não o Coelho… mas as mãos a trabalhar!...

El Rey Ninguém
(encostado ao balcão, 
mas com o copo às escuras…)