sábado, 31 de março de 2012

Oh MAI God!...

Parece que o Ministério da Administração Interna quer promover encontros entre jornalistas e polícia. Promover encontros?... Hummm, acho muito bem? Mas, se assim for, há que mudar o nome ao Ministério. Talvez, e para manter a sigla, Ministério dos Arranjinhos Íntimos - MAI, ora aí está! E até pode ser que assim funcione melhor. Reconfigure-se o MAI, já! Love is in the air...

Ora, qual é a atitude mais responsável,
Seja qual for o governo,
Senão de imediato pôr termo
Ao que administra o inadministrável?

Não é passo maior que a perna,
E os motivos são legítimos:
Criar o dos Arranjos Íntimos
Onde era o da Administração Interna.

E o senhor ministro, se lhe apraz,
Queira em vez de senhor ministro,
Que já é título malquisto,
Ser, qual Brízida Vaz,

De moças casadoiras o sustento,
E assim, com um agir tão idóneo,
Talvez venha Santo António
A fazer as vezes de São Bento!

Aqui ficam vários exemplos,
Ainda que sejam avulsos,
Dessa mudança nos costumes e usos
Que é já sinal dos tempos!


(…)
‘Sr. Agente do Cacete,
P’ra ilustrar mudança de atitude,
Permita que elogie a magnitude
De seu sobressaliente cassetete!’

‘Pela lei e contra o regabofe,
Não há nem repressão nem temor
Desde que o seu gravador
Esteja sempre em função OFF.’

‘Sempre admirei homens de farda
Que agem com abnegação e denodo,
Sacrificando o eu pelo todo
E compensando com pancada!’

‘Marcamos entrevista p’lo telefone,
E p’ra que a coisa tenha graça,
Eu levo algemas e a mordaça
P´ra se falar ao microfone!’

‘Você sabe o que é bom p’ra tosse,
E se arreia em cheio no pessoal
Só há uma razão p’ra tal:
Sofre de ejaculação precoce…’

‘Vá lá, aceite este amor de cortesia
E receba estas nódoas negras
Como lembretes das regras
Em que assenta a democracia…’

‘Porque não vamos ter um caso?
Façamos ao amor justiça,
Embora ainda seja noviça
Nestas artes do sado-maso!’
(…)

Não é melhor beijinhos e abraços,
Jornalistas de bem co’ a bófia
Sem haver cá bazófia
Nem ossos feitos em pedaços?...

Sr. Ministro, santo casamenteiro,
Deixe-se lá de politiquice
E faça mas é da alcoviteirice
Uma ocupação a tempo inteiro!

El Rey Ninguém
(como dizia o poeta: "a vida é a arte do encontro...")

segunda-feira, 26 de março de 2012

40 dias, 40 noites



E foi então que o nosso herói, Jesus da Galileia,
Foi assaltado por uma inominável diarreia,
E estando em pleno deserto,
E não tendo um WC por perto,
Por tal deserto vagueou, 40 dias, 40 noites,
Sentindo, nas tripas, uns tais açoites,
Que assim julgara acabar sua existência,
Pois que o esfíncter já mal opunha resistência
A toda aquela pressão intestinal tremenda!
Não sabia ele que andava na sua senda
O senhor de todos os pecados e vícios,
O qual acha estes momentos propícios
Para sujeitar as almas a um qualquer teste,
Mesmo que seja a do Filho do Pai Celeste.

‘Se tens a tripa assim, tão aflita,
Porque não transformas aquela pedra numa sanita?’ -

Foi, de Belzebu, sua primeira tirada,
Logo após Cristo sofrer brutal guinada.

‘Grandes são as dores que me consomem,
Mas, está escrito, nem só do cagar vive o Homem!...’

E seguiu caminho pelo inóspito deserto,
Alheio ao calor e à picada do insecto,
Até que Belzebu, com ardilosa palavra,
Voltou, pleno de insídia, à carga:

‘E aquela folha de palmeira, símbolo ecuménico,
Porque não a transformas em papel higiénico?’

Cristo respondeu: ‘Apesar das presentes amarguras,
Tal papel é indigno das Sagradas Escrituras!...’

Estava visto que Belzebu não tinha sorte:
Cristo não acusava o menor desnorte,
Prosseguindo, embora sem alargar a passada,
Receoso, por descuido, dalguma súbita descarga.
Ora pela manhã, Belzebu, ainda meio estremunhado,
Reparou que Cristo já se tinha afastado,
E então, aterrorizado de o perder,
Desatou, feito um maluco, a correr,
E estando quase a tomar-lhe a vantagem,
Eis que Belzebu entrou em derrapagem,
Como estivesse a fazer patinagem artística!
Pensou tratar-se de uma intervenção metafísica,
Mas logo reparou, olhando o seu casco, todo porco,
Que pisara, inadvertidamente, um monumental cagalhoto!

‘Não posso acreditar! Jesus Cristo, foste tu?!’

Vade retro, Satanás! Não queiras culpar-me o cu!
Não incrimines o Senhor com vãs acusações,
Muito menos a autoria de tais defecações!
E repara – tu, que tão ignominiosamente te comportas! –
Junto a esse cagalhoto, um par de botas,
E saberás então, sem que tenhas quaisquer dúvidas,
Que tais botas são as que um dia perdeu Judas,
Quando fugia, quiçá, da sua consciência,
Deixando, para trás, esse foco de pestilência!
Não me tentes, Satanás, intentando a minha queda,
Pois é certo que acabarás pisando merda!...’

É bem verdade que a Divina Providência providencia,
Tal que, léguas depois, Cristo se deparou c’uma latrina,
Onde, volvidas tais tribulações, tão indignas,
Se libertou das matérias candentes e malignas.
Quanto a Belzebu, de pé borrado no meio do deserto,
E não havendo, p’ra limpar, umas ervinhas por perto,
Por lá anda, entre dunas, a saltar ao pé-coxinho,
Diz-se que amargurado, e completamente sozinho –
Assegurando, porém, que a Judas, e por honras de Belzebu,
Se o apanha, mete-lhe uma rolha no cu!

El Rey Ninguém
(em penitência quaresmal…)

quinta-feira, 22 de março de 2012

Tudo o que eu queria...


No fundo, no fundo, tudo aquilo que eu queria
Era ser, claro está, como o Mexia,
E é que bastava só por um dia,
Porque ele, num só dia de um mês,
Ganha mais que eu em dois ou três,
E muitas, infindas vezes, o contribuinte português…
Por um dia, ser Mexia – estarei a pedir muito?
É que o meu saldo entrou em curto-circuito
E estar sem guito já não vem a ser caso fortuito!
Convenhamos: é que o homem, até quando caga,
Ganha mais que o patrão me paga
Pelo trabalho de toda uma jornada!
E é que não é precisa muita ciência
P’ra se perceber que mesmo quando solta a flatulência,
Até então, continua a auferir como uma eminência!...
Já eu, posso cagar-me o dia inteiro,
Que jamais terei esse gosto prazenteiro
De evacuar notas pelo traseiro!
É que a Eléctrica é como a Ilha do Tesouro:
P’ra lá entrar, há que bater muito o couro,
Mas, com os amigos certos, sai-se a cagar barras de ouro!
 Ah se eu fosse magnata do choque eléctrico,
Não produzia este discurso meio cataléptico,
Não andava magrinho, quase esquelético,
Quase sem carnes… Carnes? Carnes tem a Maria,
Que só ver tais carnes é uma alegria,
Ah se ela me deixasse, também eu lá Mexia,
E você também Mexia, pois com certeza,
Amar o vil metal é coisa da humana natureza,
E, já se sabe, recusar milhão… é malcriadeza!
Assim sendo, e, para mais, como já antes sucedia,
O Zé Povinho vai enchendo o pote da democracia
P’ra que outros lá vão mexer, e ah como eu Mexia…
Mas as minhas mãos, não as ponho nem as tiro,
Senão ‘inda mas trucidam as garras dalgum vampiro!
É preferível ser honesto, mas eu já não sei se prefiro…
Bom, mas será, em todo o caso, como se vê:
Neste país, uns são filhos da p… enfim, “fdp”,
Ao passo que outros, é simples, são filhos da “edp”!...

El Rey Ninguém
(escrevendo em estilo 
assim a modos que eletrocutado)

segunda-feira, 12 de março de 2012

A regra das excepções


Eu cá não me importa ficar a água e pão
O subsídio de férias, Natal, ou até de refeição
‘Tou disposto a tudo para o bem da nação
Corram-me do emprego a pontapé como um cão
Dêem-me migalhas e para os outros um milhão
Nã ‘tou interessado em cargos, estatuto ou posição
Nã aspiro sequer a ser um vampiro comilão
Reformas douradas? Nã quero saber quantas são
Subvenções vitalícias? Nã quero saber quantas são
Ajudas de custo, despesas de representação
Também nã ‘tou interessado em saber quantas são
Façam como quiserem: no bolso, metam-me a mão
Quando pedir esmola respondam-me que não
Aceito qualquer governo, até do V que foi João
Vou já pôr a bagagem no cais da emigração
Sentar o cu directamente em cima da explosão
Hipotecar o apartamento, ir viver pró barracão
Tornar-me mulher-a-dias, proxeneta ao serão
Penitência sexual, vou deixar de ter tesão
Se quiserem ser o dlim, posso muito bem ser o dlão
Eu cá dispenso o cherne, quero bacalhau com grão
Se não posso voar, vou rastejar pelo chão
Juntar-me às tropas estacionadas no Afeganistão
Despir a pele do cordeiro, envergar a do ladrão
Deixar de ser a bela, passar a ser o senão
Ser um rei velho, impotente, e sem filho varão
Ou a besta apocalíptica num livro de São João
Tanto ser Pilatos como o corpo da crucifixão
Estar sempre, caninamente, do lado de cá do Marão
Ser mastim de fila, sempre às ordens do barão –
Já nada me importa ou me mete confusão
‘Tou disposto a tudo, de todo o coração
Desde que vocês, por favor, metam a mão
Na consciência já em risco de extinção
E depois de se juntarem em magna reunião
Tomem a mais solene, altruísta deliberação
De me incluírem num qualquer regime de excepção!
Pois eu já percebi e deixei de ter ilusões
Aqui onde excepção à regra é regra de excepções…

El Rey Ninguém
(um homem de regras, mas a querer ser excepção)