domingo, 29 de abril de 2012

Vamos com os cucos?


Portugal é um voo sobre um ninho de cucos
E, quanto a isto, nada, absolutamente, de novo:
Para os sacrifícios, sino a rebate, chame-se o povo;
Porém,  porque nunca o chamam quando é lucros?...


El Rey Ninguém 
(psicopaticamente português...)

Nota: imagem retirada de http://uma-noite-aconteceu.blogspot.pt/2011/09/voando-sobre-um-ninho-de-cucos.html

domingo, 22 de abril de 2012

Já-há-mais

Ora aqui está um mistério para a ciência forense:
Ter o rótulo e não saber a que frasco pertence,
Ou, ‘inda pior, caso p’ra lupa ou monóculos,
Ter, de frascos, um só, mas dezenas de rótulos!
Então, sendo assim, cola-se o quê aonde?
A gente pergunta, ao redor, nenhum’ alma responde,
Nem sabe sequer se há variante
Acaso muda o dizer o autocolante:
Precário, indignado, o inumerável anónimo
Será tudo diverso ou sinónimo?
Hoje, nem sei se com desagrado,
Descobri-me, num formulário, indeterminado
Tenho um novo baptismo, um novo nome.
Como é isto? Quem determina, indeterminou-me?
Pessoanamente, não sei se chego a ser (ou se tardo)
Qualquer do rótulo em mim colado.
Vou de um em outro; como quebro o ciclo?
Já sei: parto o frasco e logo me reciclo
E faço de mim novo jarro
P’ra água, vinho, se necessário escarro.
Não colem, por favor, rótulos neste vidro:
Epítetos, apodos - expressamente proibido!
Este frasco, agora, seja lá o que for,
Já não é o que lá queiram pôr;
É enchê-lo, até cima, de livre escolha,
E por aqui se vê a importância da rolha
Para proteger o vasilhame
De conspurcação, eventualmente algum derrame…
Pois indeterminado! Seja como me nomeais,
Mas se lerdes o meu rótulo, em letras garrafais,
Assim como no meu, igual noutros mais,
Olhai o prazo de validade. Diz: JAMAIS!...

El Rey Ninguém
(um homem verbalmente enfrascado...) 


Nota: imagem retirada de http://mundotop.com/potes-de-vidro-onde-comprar-precos-artesanato/
 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cows from outer space


25 de Abril de 1974 – a estação orbital
Estacionada a ziliões de km do planeta
Regista a passagem, acoplada a um cometa,
De uma nave interestelar colossal
Que vem a despenhar-se, sem deixar marcas,
Num país algures em plena Europa.
Entre os destroços, abre-se uma porta
Donde sai um poderoso exército de vacas.
Estas vacas, emissárias de Hipócrito,
Um tirano alienígena com mau feitio,
O pior trambolho que o cosmos já pariu,
Estas vacas, dizia eu, vieram parar a sítio inóspito:
Este sítio, que não lembra ao diabo,
É a própria pátria do Camões e do Pessoa,
E é curioso que nessa altura, em Lisboa,
Siga a revolução, embora em tom moderado.
Ora, estas vacas são vacas, mas não são parvas –
Foram meticulosamente treinadas, são uma tropa de elite,
E enquanto não falta na rua quem grite,
Estas vacas, com artimanhas e bem calculadas palavras,
Conseguem, num acto inesperado, apossar-se do poder!
Muitas sobem ao palanque e, altissonantemente, mugem;
É a hora, meu senhores, de o altifalante perder a ferrugem,
E tem que ouvir mesmo quem não quiser…
As vacas não perdem tempo: novas ordens são decretadas,
Projectos de lei, um ror de regras ainda por inventar –
Cúmulo: as vacas chegam a proclamar-se ‘sagradas’
E com habilidade para tratar de assuntos sérios,
Até metendo o focinho na forragem do outono,
E também noutros assuntos, de que não percebem corno,
E assim ascendem a cargos de chefia nos ministérios.
A bem segura distância, e por controlo remoto,
Hipócrito comanda, de surra, a sua horda,
Que, ah!, já veste fatos, sorri, anda na moda,
Mesmo que à volta tudo descambe e dê pró torto.
Aliás, discretamente tudo se parece encaminhar
Para a instalação de um festim lúbrico,
Ainda por cima à conta do erário público…
Enquanto isso, as vacas, naturalmente, continuam a avacalhar,
E não tarda que, nas parangonas dos jornais,
Surjam notícias de tão notório avacalhamento:
Buracos, golpadas monumentais, derrapagens de orçamento,
E uns outros tantos esquemas e aldrabices mais!
Não tarda que o povo sua indignação já mostra
Perante as ditas vacas sagradas do poder,
Porque prometam lá o que irão fazer,
O que têm feito, quase sempre, é uma indescritível bosta!
Dão cabo, por completo, do asseio geral,
Pois, a cada vez que sua farfalhuda cauda se arreda,
Lá de dentro sai uma rajada sonora de merda,
Tanto que já mais parece uma vacaria Portugal!
Mas acaso alguém pergunta como delas nos livrar -
O que fazer com tais seres?, mandá-los p’ra onde?... -
É caso curioso, há sempre alguém que, bovinamente, responde:
‘Ah não, são sagradas, não se lhes pode tocar…’

El Rey Ninguém 
(cidadão de um povo que não tuge... nem muge!...)

Nota: imagem retirada de mashistoriaeso.blogspot.com

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Especiaria indiana


Vão os Lusíadas daqui ao Oriente em busca de especiarias e esquecem-se de que o abuso dessoutras substâncias pode, de facto, originar maleitas de saúde ou outras igualmente deletérias consequências.
É o caso das chamuças e de seu dilecto tempero, o caril, como descobriu Karil Ghibran, poeta místico e rematado apreciador de tais petiscos. Redimiu-se – valha-nos isso – pela poesia…

Se achas terrível a diabetes,
Isso é porque não sabes de certos fretes
Que causam ainda pior sofrimento,
Tais como comer chamuças a contento,
O que, se na hora dá prazer
E atiça a vontade de comer,
Mais tarde é uma verdadeira desgraça,
Pois chamuça é coisa que no cu não passa,
Já que tem a forma dum triângulo
E o cu é redondo e não tem ângulo,
E isto, meus amigos, sem falar no caril:
O cagalhão, quando sai, sai a mil!
Muita sanita não se partiu por um triz
E, pelo aroma, parecia o Martim Moniz!
Por isso, não armes sururu,
Não abuses do caril… e trata bem do teu cu!

El Rey Ninguém
(num daqueles dias em que parvoejar 
é ponto único na ordem do dia...)

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Amanhã é Sexta-Feira


Cristo, amanhã é Sexta-Feira, dia sagrado,
Mas eu tenho um desejo em mim guardado
Que tu, com certeza, muito apreciarás:
Não terás que suportar Judas ou Barrabás,
Mas só e apenas – e escuta o que te digo –
Trocares, por favor, de lugar comigo,
Porque, não sei, mas soa-me que crucifixão
É preferível a viver, assim, nesta nação…
Sei que enfrentaste a cruz sem medo,
Mas tu tinhas Pilatos, e eu tenho Pedro,
E os seus Passos não são os da Paixão,
Mas sim os não sei quantos Passos da Desilusão!
Entre o seu feitio e o de Judas, há certas comunhões,
Embora aquele nos tenha vendido aos milhões,
E este, coitado, vendeu-te por uma bagatela,
Tanto que, arrependido, se dependurou pela goela.
Estás a ver, Cristo, como ficas a ganhar?
Eu, se fosse a ti, trocava já de lugar!
Olha que se não é parecida, é quase a mesma
Esta situação a que uns chamam quaresma,
Porque eu também sofro longa, extrema penitência,
Designada, ao que sei, por Programa de Assistência,
E se por 40 dias, 40 noites jejuaste pelo deserto,
Eu jejuarei ainda por 40 anos, é o mais certo,
A sonhar com esse tempo dos contos de réis…
Olha que assim conquistas mais fiéis.
Olha para mim: o meu ventre já não sangra,
Mas, como tu, também já ando de tanga,
E já sofri, na pele, chicotadas dolorosas,
Como quando o banco avançou c’ as penhoras
E o senhorio pediu renda de não sei que mês…
Meu sacrifício sobrepuja o teu, como vês,
E não transmitirá tanta dor teu sudário
Como a que exprimo ao ver minha folha de salário!
Oh!, não fiques aí assim, de braços abertos, moribundo,
Desce daí e toma o meu lugar neste mundo!
Talvez Deus me tenha abandonado, por que razão não sei –
Terá sido algum imposto que não paguei?!
Algum subsídio de que eu não prescindi?!...
Cristo, por favor, troca comigo, eu estou aqui,
Caído, de esperança já não tenho sequer um pingo…
Ahn?, o que dizes? OK, está bem. Falamos então no Domingo…

El Rey Ninguém
(colocando o lugar à disposição do Messias)