segunda-feira, 12 de março de 2012

A regra das excepções


Eu cá não me importa ficar a água e pão
O subsídio de férias, Natal, ou até de refeição
‘Tou disposto a tudo para o bem da nação
Corram-me do emprego a pontapé como um cão
Dêem-me migalhas e para os outros um milhão
Nã ‘tou interessado em cargos, estatuto ou posição
Nã aspiro sequer a ser um vampiro comilão
Reformas douradas? Nã quero saber quantas são
Subvenções vitalícias? Nã quero saber quantas são
Ajudas de custo, despesas de representação
Também nã ‘tou interessado em saber quantas são
Façam como quiserem: no bolso, metam-me a mão
Quando pedir esmola respondam-me que não
Aceito qualquer governo, até do V que foi João
Vou já pôr a bagagem no cais da emigração
Sentar o cu directamente em cima da explosão
Hipotecar o apartamento, ir viver pró barracão
Tornar-me mulher-a-dias, proxeneta ao serão
Penitência sexual, vou deixar de ter tesão
Se quiserem ser o dlim, posso muito bem ser o dlão
Eu cá dispenso o cherne, quero bacalhau com grão
Se não posso voar, vou rastejar pelo chão
Juntar-me às tropas estacionadas no Afeganistão
Despir a pele do cordeiro, envergar a do ladrão
Deixar de ser a bela, passar a ser o senão
Ser um rei velho, impotente, e sem filho varão
Ou a besta apocalíptica num livro de São João
Tanto ser Pilatos como o corpo da crucifixão
Estar sempre, caninamente, do lado de cá do Marão
Ser mastim de fila, sempre às ordens do barão –
Já nada me importa ou me mete confusão
‘Tou disposto a tudo, de todo o coração
Desde que vocês, por favor, metam a mão
Na consciência já em risco de extinção
E depois de se juntarem em magna reunião
Tomem a mais solene, altruísta deliberação
De me incluírem num qualquer regime de excepção!
Pois eu já percebi e deixei de ter ilusões
Aqui onde excepção à regra é regra de excepções…

El Rey Ninguém
(um homem de regras, mas a querer ser excepção)

1 comentário:

  1. Excepções, pois , excepções, a excepção devia ser regra, vamos lutar pela regral geral da excepção, deste modo, talvez ,excepcionalmente, se lutarmos sem medo será possível que todos os trabalhadores recuperem do assalto dos últimos tempos. A regra geral, tem sido sermos governados por uma corja de ladrões ao serviço dos grandes interesses económicos. Será que um dia teremos um governo de excepção, que governe para bem do povo. Será ?

    Abraço solidário,
    Luís Sérgio

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