domingo, 5 de fevereiro de 2012

Taverna do Pedrito


P’ra que se saiba: é na Taverna do Pedrito
Onde se come e bebe melhor:
Coirato assado, pipis, bacalhau frito…
Mas é do Coelho à Caçador
Que lhe advém uma tal fama sem fim,
(Que, aliás, lhe granjeou uma estrela Michelim)
Por ser prato de se perder o juízo!...
Entra-se de carteira cheia, barriga vazia,
E sai-se c’o bolso tragicamente liso
E com vontade de não voltar noutro dia,
P’ra não cair, inadvertidamente, na tentação
De um tão renomado prato, cuja confecção
Tem 1001 segredos, envoltos em mistério,
Os quais o cozinheiro-mor do Pedrito,
Paulo Cortas, chef tido por homem sério,
Mantém a salvo, como se tratara de um rito
Inacessível, inclusive, aos seus ajudantes,
Malta com experiência doutros restaurantes
E que, volta e meia, assim manda a vida,
Andam à cata duns tachos, ora essa,
A ver se em vez da pescada cozida
Caem chernes ou robalos na travessa;
E saem-se, normalmente, com cada receita,
Que a garganta de um homem é estreita
P’ra engolir tanta, mas tanta caldeirada!...
Mas a Taverna do Pedrito mantém a fama
De uma casa de pasto reputada:
O freguês come, cala, e não reclama,
E entre Coelho, cabrito, ou porco de pata preta,
Tem ainda que largar a gorjeta
Pró empregado, que é um tipo sisudo,
Que anda pela sala, a rondar,
E que, no que toca a gorjetas, arrebanha tudo!
Cabe a este Fulano, de sua graça Bictor Gastar,
Ter a certeza de que a Taverna do Pedrito
Não se muda em Taverna do Aflito!
Mas Pedrito, rapaz de obras desfeitas,
Tem, na manga, um naipe inteiro escondido,
E como é um tipo liberal e às direitas,
E sabendo que o Coelho é bem vendido,
Decide, sem pedir licença ou cortesia,
Fundar, do animal, a respectiva Confraria!
É claro que a Confraria não é p’ra todos –
Trata-se de um círculo dir-se-ia restrito,
Só p’ra aquela clientela com bons modos,
A quem deve favores o Pedrito,
Por ser gente, diz quem sabe, de muito honor,
Viscerais apreciadores desse Coelho à Caçador!
O Pedrito sabe o que faz, como se vê,
E manda, p’ra tão singular ocasião,
Abrir várias garrafas de E.D.P.,
Um vinho que nada tem de carrascão,
O qual, apurado em carvalho já velho,
Combina às maravilhas c’o tal prato do Coelho!
O primeiro confrade a ter que alargar o cinto,
P’ra aliviar uma pança já de si tão cheia,
Vem a ser o cliente Talo Peixeira Tinto -
Além do Coelho, diz-se que apreciador da alheira,
E outras iguarias da gastronomia da coelheira,
As quais não são, está visto, p’ra qualquer carteira;
Outro confrade cuja entrada se advoga,
Proprietário, outrossim, de um estômago alargado,
Vem a ser Educado Retroga,
Cliente de um gosto mui requintado,
Já que, no respeitante aos ditos coelhos,
É: “esfolados, sim, mas com pentelhos,”
O que, segundo afirma este gourmet,
Confere ao animal um paladar assaz distinto,
Isto enquanto, do afamado E.D.P.,
Prova quer do branco, quer do tinto! -
E.D.P., leia-se: “Especial Do Pedrito”,
Que é um vinho que não tem sulfito
E deixa a clientela da Confraria
Pois muito além de contente,
Já que o tal prato, afinal, só causa azia
A quem, pobre dele, não é cliente
Do Pedrito, e que, para cúmulo do azar,
Esfola não o Coelho… mas as mãos a trabalhar!...

El Rey Ninguém
(encostado ao balcão, 
mas com o copo às escuras…)

2 comentários:

  1. Isso para lá chegar a essa taberna, não é demasiado tempo a não fazer nada? E mesmo passando esse tempo não fazendo nada, há quem não a encontre ou não lhe seja dada entrada!
    Também comer nessa tasca... nem eu queria fazer parte dessa confraria... Prefiro a açorda que há cá por casa!

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  2. Especial Do Pedrito ! bem visto ! Bem pensado, mas este pedrito é o matador ou o assador, pois estou a ver que até rima com ESTUPOR e ESFOLADOR não de coelhos mas do povo. Mas, este Pedrito é chinês, amolador ou da P... que o Pariu !
    Pois, como diz um velho amigo, a P... que o pariu de ser uma grande, grande troica que passa os dias e as horas na cama a tramar, a tramar e o Pedrito com inveja, obediente e bem mandado vinga-se nos que trabalham.
    Aí quem me dera ser caçador !Outras tascas haveria, com novos donos e novel gastronomia, até lá ...

    Abraço,
    Luís Sérgio

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