segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sofazai, mia senhor!...

Torna uno o que era dúplice
E é tão próxima, tão cúmplice,
A relação que com ele acalentais,
Que são infindos os meus 'ais',
E não sei quanto ainda os suporte,
Mia senhor, por ser tal a minha sorte...
É desterro onde meu coração levais,
Enquanto, de mim alheia, sofazais.
Pois sabei a cada sofazadela vossa
Que mais meu peito se dilacera e destroça...

Ei-lo aqui, pouco além de escombro,
Ah não fora ele, mia senhor, redondo,
E fosse, também ele, já agora, almofadado,
E nele pudésseis ter vosso corpo alongado...
E se com ele, por fim, vós fôsseis una,
Não padeceria esta tão triste lacuna,
Que cousa pior não imagino, não há,
Que não sirva para vosso sofá
Este meu coração, recipiente destoutro penar,
Só por nele não quererdes, enfim, sofazar...

El Rey Ninguém
(rendido a um tão expressivo neologismo)

Nota: foto de Delfim Dias.

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