sábado, 26 de novembro de 2011

Na Maternidade da Poesia...

O poema saiu e alguém, na sala de espera, 
proclamou, erradamente, que era meu…


‘Eis o seu filho!’ – disseram, de forma solene;
Mas eu exigi de imediato um teste de ADN,
Porque havia, enfim, traços na sua fisionomia
Que me levavam a pensar não ser minha tal cria,
Pelo que, olhando o doutor, olhando o broto,
Afirmei: ‘Não! O pai tem que ser outro!’
Acrescentei: ‘Isto, aliás, não faz o mínimo nexo,
Nunca com essa senhora cheguei vez alguma a ter sexo,
E se a pluma se me pôs nalgum momento em pé,
Foi só por algum carinho, um beijo, um cafuné,
Mas nunca, jamais, e isso é que é exacto,
Cheguei com ela às ditas vias de facto,
E por isso, sem qualquer dúvida, o declaro hoje aqui:
À Palavra, nem sequer em cuecas, até hoje, a vi!
E assim, essa inominável coisa que hoje foi parida,
Foi com certeza outro, e não eu, o autor da sua vida,
Sinal de que a Palavra - zás trás catrapum! -,
Afinal, é uma devassa: abre as pernas a qualquer um!

El Rey Ninguém
(mas, afinal, quem será o pai do poema...?)

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