sábado, 2 de julho de 2011

O Relatório Mistério


Indo, como é meu costume, de terra em terra, pelos reguengos deste país, encontrei, em tal peregrinação, gente muito aflita, desesperada até, e a razão p’ra tudo isto era o ter ali passado profetisa, de seu nome Jezebel Calçada, a qual, junto do pelourinho da aldeia, sermonizara profusamente, debitando banalidades e outras cousas quejandas, sem ponta por que se lhe pegasse.
 Até aqui, tudo bem, não fora Jezebel Calçada, antes de desaparecer numa bruma arturiana, ter proclamado uma espécie de apocalipse iminente, tendo, nomeadamente, os professores que redigir um Relatório em que auto-avaliassem a sua conduta neste mundo, sob pena de virem a ser guilhotinados em futuro concurso às funções. Dito isto, percebe-se o porquê de a aflição ter proliferado por entre tal gente que nem fogo em palha seca.
 Valha-nos outra profecia, a de que virá outro ser iluminado, ao que se sabe vindo de terras além-Tejo (supõe-se que do Crato…), e que, por ter mau feitio, reza a profecia ser conhecido, nos círculos druídicos, pelo… Pior do Crato!...
Eis, então, um texto que já circula, ao que se diz expelido das flamejantes entranhas do próprio Pior do Crato, qual vesuviano magma:

“Há quem faça esse famigerado Relatório
Como se o fizera no mesmíssimo papel
Que fica naquela zona adjacente
Entre a sanita e o lavatório,
E embora se lhe conceda tratamento tão cruel,
No fim de contas, o Mané fica à mesma contente
Com o documento que, tão diligentemente, concebeu,
Porque, afinal, foi ele, e não o cu, que o escreveu!...

 

Outros há que façam o mesmo Relatório,
Mas num papel da mais alta categoria,
Como fora Corão, Bíblia, ou outro texto sagrado,
E quase o escreveriam em sânscrito, ou latinório,
Ou em língua que ninguém entenderia,
Pró Mané se alardear um intelectual informado,
Razão p’ra que se passeie, empinando o nariz,
Embora, lendo-o, ninguém perceba o que ele diz!...

E há ainda outros cujo mesmíssimo Relatório,
Se pudessem, o fariam como em folha de rascunho,
Sem preocupações de maior, a exigências meias,
Na suposição de que, urdindo um simples relambório,
Desde que dando ares de assaz fiel testemunho,
Assim satisfaçam as analíticas mentes alheias,
Que, não sabendo se é de quem se aplique ou se desleixe,
Não conseguem discernir se é aquilo carne ou peixe!...”

E acrescentaria eu:

Como se vê, o grau de execução varia,
Mas todos se acham donos e senhores da razão,
Seguros de que por lá virá a ocasião
Que confirme que era como tal gente previa.

Mas os que assim pensam são obtusos,
Porque em casa onde não há pão,
Todos ralham e opinam e nenhum co’a razão!
O que eles andam é todos confusos,

E só pode ser esse o critério:
Quem estiver mais confuso é que está certo!
E quanto ao resto, ora essa, é texto a metro.
E pronto: eis resolvido o mistério!...

El Rey Ninguém
(sentado, à espera do… Melhor do Crato)

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