segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sai, Câncer!...


A bola serve ao povo de catarse
e, enquanto isso, a própria metástase
sofre, a reboque da crise, seus reveses.
A ordem é: metastizar menos vezes,
não poluir as células em pureza sacramental,
pelo menos até haver folga orçamental
e o país poder ir aos mercados financiar-se.
Até lá, é como eu disse: simplesmente aguentar-se!
Toda e qualquer maleita tem ordem de despejo,
desde logo a começar pelo cancerígeno caranguejo,
o qual terá que ir desovar noutra praia,
já que artrópodes desses, ou doutra laia,
se apresentam, ao político, como um letal veneno,
pois fodem qualquer boa previsão do Governo!
Não há folga orçamental, muito menos almofada,
aliás, bem entendido!, o cidadão c’a saúde debilitada
estabeleça prioridades, faça as suas opções:
ou comprar a aspirina, ou jogar no euromilhões;
o amigo é que sabe: ou o bilhete de autocarro
ou aquelas intragáveis pastilhas contra o catarro.
Faça como o político (que é coisa de louvar):
puxe a gosma do pulmão, cuspa prò ar!
Se o cidadão diabético se quer sentir all right,
chupe rebuçados Bayard, beba produtos light!
Onde já se viu (a lata do cidadão!)
comprar medicamentos o valor três vezes da pensão?!
Isto de viver acima das possibilidades
tem que ver também c’o abuso de enfermidades!
A malta, à mínima coisa que aparece,
entope logo as urgências do SNS -
nem que seja apenas unha do pé encravada,
querem logo a consulta e a receita aviada!
Francamente! Unha encravada? Deixem-se disso!
Qualquer rebarbadora daria conta do serviço.
Ó Ti Raimundo, esqueça a angina de peito,
os bicos de papagaio, ponha-se a andar direito!
Ena, tantos medicamentos! Que vem a ser isto, D. Gertrudes?
Olhe que não precisa, o SNS trata-lhe da saúde…
Medicação? Tome-se, só e apenas, a necessária,
e, já agora, o contacto de uma agência funerária,
não vá o Diabo tecê-las, anda sempre à cata de almas,
e se a Dama de Negro aparece, deixe-se ir nas calmas,
consta que se vai p’ra lugar bem agradável
e, pouco a pouco (até que enfim!), Segurança Social sustentável!
Não há excesso de pensões, só de pensionistas!
Vá, fora, ponham-se a andar, doenças malquistas!
Todo e qualquer cancro, é hora de se erradicar,
Fiquemos apenas c’o cancro parlamentar…

El Rey Ninguém
(gradualmente menos que ninguém,
um quase nada...)

Nota: imagem retirada de http://novosinsolitos.blogspot.pt/2012/04/cientistas-descobrem-especie-de.html

2 comentários:

  1. Ele Há coisas... o meu caro "El Rey", em vez de por a bandeira à janela, como português de boa cepa, vem deliciar-nos com a sua poesia, ainda mais de pendor neo-realista. Querem lá ver que a nação está perdida... Um bando, atenção quero escrever grupo, não se leiam outras coisas, de rapazes muito esforçados e corajosos dá o corpo ao manifesto
    pela honrada pátria ( dos muitos milhões de euros) e V.Exa vem preocupar-nos com essas minudências do serviço nacional de saúde. Veja se vai beber outras águas, a sua água de luso ainda lhe traz dissabores. Ó Homem, então não sabe que a nova santissima trindade é a troica, o senhor dos passos e o futebol que nos "induca". Deixe-se destas coisas, um homem de boas famílias faz versos indolores e incolores, não dizer nada é o que está a dar e, o senhor abusa do gume das palavras. Cuide-se, mas pela alma dos poetas, não se cale, não !!!
    Abraço,
    Luís Sérgio

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