quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Matricídio

Quando está a Pátria de perna aberta,
Todos querem um naco de acção:
Mesmo o enfermo da uretra
Ou aquele a quem falta o tesão
Se acham, na iminência da derrota,
No direito à derradeira cambalhota!
Um, que já nem lembra como se faz,
Empurra o Viagra c’uma aguinha Carvalhelhos,
Hesita (se pela frente ou por trás…),
E serve-se, à descarada, dos pentelhos,
Nos quais se lambuza, qual acepipe,
Afastando as rendinhas do slip
Que à Pátria tapava as vergonhas.
Quem lhe deixou o hímen roto?,
Quem a rompeu com fálicas coronhas?...
Quando a que impera é a lei do escroto
E apenas se busca satisfação pessoal,
Não admira que a nossa Pátria, Portugal,
Seja ora presa de uma matilha com cio.
Não há carinhos, amplexos, ósculos,
Da parte de Pedro, Paulo e compadrio,
Pois nem nomes que foram dos apóstolos
Neles refreou tão sanguinária luxúria!
Tudo é bruteza, frieza, e incúria…
Nela despeja todo o cão sua lascívia,
Revezando-se, num lúbrico cortejo;
Mas eis que rompe a luz do dia,
E os cães predadores do desejo
Ora contemplam a Pátria Mãe em farrapos:
Aberta, cuspida - cobrindo-a: dois trapos -,
Nos seus seios desnudos as marcas arroxeadas
Da furiosa mão que os arranhou,
E as pudendas partes, dessacralizadas
Por quem a ela roubou,
Ou deixou, ejaculado e sujo,
O que nela ainda houvera de luso,
De egrégio, singelo, e casto…
Oh Pátria, outrora virgem impoluta,
Pelo colectivo estupro, nefasto,
Ei-la agora derribada a puta,
Um pedaço mal amado de mulher!...
Sirva-se, à tripa forra, quem quiser,
Acaso gosta delas assim. Os primeiros raios
De sol põem a nu a violação;
Um mastim ladra p’ra seus lacaios,
Rosna, por entre a baba, sem compaixão:
“Ei-la de quatro, irmãos: a Pátria, esta cadela,
E nós… somos todos filhos dela!...”
El Rey Ninguém
(à falta de tinta, escrevendo com bílis sobre o papel...)

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