Como os tempos vão difíceis, decidi nomear o meu Cozinheiro-Mor também meu real assessor para os assuntos de natureza, digamos, mais burocrática. E vai que há dias mandei-o chamar à cozinha, lá ao meio dos tachos. Intenção: vir ajudar-me a arrumar umas papeladas que já quase atingiam o tecto dos meus reais aposentos.
Estávamos nessa dita azáfama, quando, por não sei que razão, me passei da corneta, saindo-me pela boca fora um caudal de queixumes que o meu fiel escriba, estando, como é sua incumbência, por ali perto, tratou de transcrever à velocidade da luz.
Ei-los aqui, tais quais foram paridos:
…Mas, afinal, em que é que a gente fica?
Tenho o meu programa eleitoral –
Um kg de papel por Portugal -,
Só não sei onde pus a mica…
Será que alguém aqui passou
E lhe deitou a mão,
P’ra ir mostrá-la à televisão?
Quem é que ma roubou?...
É que a mica faz-me falta,
Porque sem o dito programa
Fico c’o meu rating na lama
E já não posso animar a malta!
Quero a minha mica, caramba!
Se não ma trazem de imediato,
Assino p’ra aí um tratado ou um pacto,
Mas diz-me o meu real assessor
Que tanto alarido não vale a pena,
Porque é bem mais grave o problema:
‘Meu muy nobre e estimado Senhor,
Não se enrede nessas tramas,
Porque sai de lá mais sujo... que limpo!
Olhe, são coisas que eu não consinto
É discutir se se tem ou não programas,
Pois andando tais gentes com tais pruridos,
Esquece-se a plebe de perguntar, e com razão,
Pelos outros programas, que já lá vão…
Ou seja, meu Senhor: foram ou não cumpridos?...’
Ai!, cometo um erro se deste assessor me desfaço.
Aliás, se fosse político e estivesse no poleiro,
Dava-lhe quanto merece este meu cozinheiro:
Arranjava-lhe logo o belo dum tacho!
El Rey Ninguém
(num estado de alma algures
entre Maria de Lourdes Modesto
e o tipo da papelaria…)
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