Ah como era bom e havia certezas
No tempo das vacas morbidamente obesas!...
Não havia sonho que não fosse inédito,
E se fosse, abria-se uma linha de crédito
Com suaves prestações e atractivas,
P’ra ir passar quinze dias às Maldivas.
Sem saber se o vizinho era Joaquim ou Manel,
Gabávamos, de distantes paragens, o hotel,
Nomeadamente o serviço de buffet e a piscina,
Coisas, no mínimo, a 3000 km da esquina,
E onde não sabíamos sequer o nome do garçon
Pronunciar. Mas alegávamos: ‘Aquilo é que é bom!...’
E viéramos sem saber saber se naqueles pratos
Comêramos bifes ou solas de sapatos…
Também não importava: movidos pela gula,
Com créditos empilhados até à espinal medula,
Tínhamos direito a tudo, comprávamos tudo:
O relógio, o Tom-Tom, o vison e o sobretudo,
E o último grito da tecnologia alemã,
P’ra ir tomar café a 100m, logo pela manhã.
‘E só as jantes, amigo, foram um balúrdio!...’
Pois, que dizer?... Mais um gasto estapafúrdio,
Como outros tantos, p’ra engrandecer a vidinha,
E como “a da vizinha é sempre maior que a minha”,
Não conseguiste parar, foste em espiral,
Juntaste-te, alegremente, ao real porreirismo nacional -
Tudo à grande, pois pudera!, e à francesa!
Mas a vaquinha, outrora morbidamente obesa,
Ou por motivos de estética, ou por falta de comida,
Virou anoréctica, e pregou-te uma partida;
Não há fartura que não dê em miséria. E agora, moço?
Pois olha, não havendo chicha… é hora de roer o osso!
El Rey Ninguém
(voltado, momentaneamente,
para a exploração agro-pecuária)
Achei este provérbio bem adequado:
ResponderEliminar"Não há carne sem osso, nem madeira sem nó"