É no meio desta gente, abatida e carrancuda,
Que faz sentido a diária pregação
Dos milenares ensinamentos do Buda,
E isso a começar, desde logo, pela condução
Dos nossos destinos por alguma vereda
Ao cabo da qual o Iluminado por nós interceda
E assim ascendamos, porventura, ao Nirvana.
Não é fácil lá chegar, como se sabe,
Mas onde a alma tantas vezes se engana
E não cumpre com aquilo que lhe cabe,
Bem mais espinhoso se torna o caminho,
Pedregoso, incerto, e feito, tantas vezes, sozinho…
Mas há sinais, e são, digo-o eu, bem evidentes,
A despeito das dúvidas que vivemos,
De que as sofredoiras e lusas gentes
Trazem os ânimos agora mais serenos,
Tanto que afirmarei, sem qualquer receio,
De que muitos mais seguem o Caminho do Meio,
Tal qual o Buda pôs em preceito
Como via para um espírito impoluto e probe:
Não é o esquerdo, muito menos o direito,
Mas o do meio, em pleno IC 19,
Aquele que serve para, em trânsito solene,
O cidadão andar em estado Zen!...
O caminho mais à esquerda não serve,
Pois é mau karma que outr’alma se ultrapasse,
E ao mais à direita se fará também greve,
Senão não haveria quem por ali entrar lograsse,
E o Caminho do Meio é de todos pertença,
E não de meia-dúzia, ao contrário do que se pensa.
Senhores automobilistas, no vosso gesto me comprazo,
E nele também, com certeza, o grande Buda,
E mesmo quando levo uns minutos de atraso,
Que dizer?... É mesmo coisa que não muda:
Pouca sensibilidade e ainda menos civismo,
E que eu, oportunamente, aqui disfarcei c’o budismo!...
El Rey Ninguém
(em estado de meditação
em plena hora de ponta)
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