Por mais que na História se procure,
Não se encontra outro que, tal como Artur,
Esteja p’ra regressar, em meio de brumas,
Ressuscitado, sabe Deus, de que catacumbas,
Ou, quiçá, de outros, mais egrégios, lugares,
Retornando ao convívio dos seus pares,
Cidadãos de invulgar carácter e excepcional,
Como são os deste prezado canto: Portugal.
Por Sebastião, espera-se da Páscoa ao Entrudo,
Mas, está visto, ele já “comeu tudo tudo tudo”,
E, do bolo, nem migalhas sequer sobraram,
E só aos beiços de meia-dúzia chegaram,
De tal bolo, as fatias, e cada uma partida
Segundo o grau de influência exercida
Nos bastidores onde se discute a nação…
É assim: p’ra uns, o bolo, pró resto, o pão –
Azedo, com bolor, e já rijo que nem cornos!
E quem não queira, há a fome como bónus,
O que não é destino tão assim funesto,
Já que sobra sempre mais pró resto,
Pois onde o pão não chega à boca,
Daí à tumba já não é distância pouca,
E assim o cidadão, morto antes de tempo
E a quem sangraram, em vida, o sustento
Com impostos por ter cu, outros por ter calças,
Ciladeado com vãs promessas e outrossim falsas,
Tal cidadão, dizia-se, ora pensionista improvável,
Já contribui para um sistema sustentável
(Da Segurança Social, entenda-se) neste país dito livre,
Onde, não tendo utentes, todo e qualquer serviço sobrevive!
Mas, com tanto comilão à solta nesta herdade,
Perguntar-se-ia: afinal, onde pára a dignidade?!...
Vai daí que – e não o previa ninguém –
No país dos que partiram de Belém
À conquista, sem imodéstias, de meio mundo,
Surge um cavaleiro de nobre valor e jucundo,
O qual, do alto da garupa e com sonoro alarde,
Berra, com estridência: “Feriram-me a dignidade!”
Facto inelutável, e que entender nos cabe e convém,
É que, se lha feriram, é porque a tem,
Sinal de que, num deserto de tanta cobiça e tanta inveja,
Eis que um oásis de salubridade viceja!
Ricardo Coração de Carvalho é o nome
Deste garboso cavaleiro a quem consome
O terem-no tratado sem o respeito devido
E, consequentemente, a sua dignidade, lha terem ferido…
É bem caso p’ra que um homem, p’ra desafogo,
Mande a nação às urtigas e dê às de vila diogo!
Pois sigamos-lhe o exemplo, com certeza,
Copiemos a receita deste cozinhado à portuguesa,
Onde os assuntos são sempre graves, como se vê,
Mas ninguém tem a hombridade p’ra nos dizer o porquê…
E assim, onde, mais que língua, se tem o pé ligeiro,
À boa moda arturiana, tudo segue envolto em nevoeiro…
Bom, é meu parecer que se isto assim continua,
Se lhe ferem a dignidade, ‘inda sai o povo à rua,
E depois, não sendo só um, mas muitos fora do baralho,
É certo e garantido… que vai tudo c’o Carvalho!!!...
El Rey Ninguém
(a apanhar-lhe o jeito p'ra se tornar
um Profeta da Desgraça...)
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