Oh meu Deus, da maneira
que isto vai
o melhor é refazer o
curriculum vitae,
p’ra melhor enfrentar as
contingências
de um mercado onde as
equivalências
têm, que o estudar, um
bem maior valor.
Eu cá não ando à caça de
cunha ou favor,
a questão é bem mais
simples e linear,
e, por razões éticas, eu
passo a explicar:
estive há dias no Centro
de Emprego,
no meio de quanto
desespero e desassossego,
e depois de cruzar, não
incólume, a Via Ápia,
deram-me um papel cheio
de prosápia,
o qual, chegando aos meus
reais aposentos,
li com atenção e variados
sentimentos,
como quem lê uma lista de
apontamentos
equivalentes a uns outros
tantos tormentos.
Mas isto foi,
tão-somente, a reacção inicial,
porque de imediato me
lembrei: “Isto é Portugal,
Terra das Oportunidades
(para os Chico-Espertos…),
e como o NÃO e o VOLTE
AMANHÃ são sempre certos,
a tristeza e o desencanto
são veleidades
a que não me posso
entregar. Oportunidades –
é isto que estará muito
bem oculto
no dito documento. Eu é
que sou estulto
e não vejo estas coisas
instantaneamente.
Desta vez, vou agir de
maneira diferente,
não vou fazer parte do
grupo de tontos,
vou seguir, à letra, um
dos pontos,
nomeadamente o que ostenta,
em epígrafe,
“Diligências.” Não posso
é ir ao polígrafo,
senão ainda hesito, dá-me
o tremelique,
coisa assim… O melhor é
que simplifique,
vou só dizer verdades,
assim, tal e qual!
“Criação de emprego ou
nova iniciativa empresarial” –
é o que lá diz, e eu vou
seguir à risca,
até porque já tenho um
cargo em vista,
que é garante de emprego,
por um lado,
e, por outro, de me
tornar empresário consumado:
vou candidatar-me a boy
de um partido!
Para estes, o tacho é
sempre garantido,
e mesmo quando saem do
poleiro
logo lhes arranjam um
posto altaneiro
numa qualquer empresa,
fazendo papel de mono,
pois embolsam milhões,
sem fazer ponta dum corno!...
(TO BE CONTINUED)
El Rey Ninguém
Nota: foto da autoria de A. Jorge Caseirão (in "Fotografia: Retrato. Fidalgos, Galgos e Pardais...").
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