Nesta fogueira das vaidades,
Mudam-se os governos e as vontades,
E neste vaivém das sociedades
Acontecem muitas novidades,
Com mais ou menos alardes,
Visando derrubar disparidades.
Acho bem! Há que fazer o necessário
Para que o antes proletário
Troque as voltas ao fadário,
E com o seu esforço diário
Suba o escadario do santuário
Onde se realiza o plenário.
Agora vai ser diferente:
Vai participar toda a gente
P’ra que isto vá p’ra a frente;
E quem não quiser que aguente,
Porque isto é força assaz potente
Que leva tudo na corrente.
E a primeira medida
P’ra que o povo mude de vida
É dar-lhe o poder que decida,
Tirá-lo do beco sem saída
Que é ter palavra proferida,
Mas tão poucas vezes ouvida.
Dantes, ia-se ao Parlamento,
Mas agora é outro o momento:
Gerou-se um tal movimento
Que, qualquer a raça ou sustento,
O cidadão cumpridor e isento
Pode exprimir-se a contento.
Se o Maomé não vai à montanha,
Então é esta que aquele apanha,
Podendo soar a coisa estranha,
Mas num país de patranha,
Onde se fazia fogo sem lenha
E onde se entrava sem senha,
Há que levar a Assembleia ao povo,
Que já é hora de algo novo:
Levar a galinha ao ovo,
Afastar tudo o que é estorvo,
Afugentar tudo o que é corvo,
E ao ‘antigamente’ pôr cobro.
Agora, vai-se aonde estiver a discussão,
Seja de barriga encostada ao balcão,
No estádio, no meio da multidão,
Na missa, antes e depois da procissão,
Ou no banco do táxi, a entabular conversação
Sobre os 1001 problemas da nação.
Chama-se a isso levar a democracia
Onde outrora, simplesmente, não havia.
Com este novo sistema, vai haver razia,
Pois onde antes tudo ou nada se discutia,
As balelas do Primeiro e os amantes da Maria,
O futuro vai chegar, por fim e de certeza, um dia…
El Rey Ninguém
(sem saber se está com a vontade mudada,
ou com vontade de mudar...)
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