O que anos a fio escreveu o
Luís:
Gente que partiu em busca
do desconhecido,
E, a mim, mandam-me aceitar
o estabelecido,
A mim, que só quero saber
qual o preço
Deste ‘ser português’, mas
sê-lo do avesso,
A mim, logo eu, que procuro
um mar dentro de mim,
Mas que olho ao redor e me
flagro assim,
Sentado, à extremidade de
um promontório…
A carne petrifica-se-me, e
o olhar marmóreo
Quer fitar além de tudo
quanto lhe mostram.
Quer barcos que partem,
outros que acostam,
Não quer divisas,
insígnias, estandartes de impérios,
Se os houver, quer
erguê-los, mas etéreos,
Um sonho sem chão, sequer
pedra ou cimento,
Erigido ao alto, mas
construído p’ra dentro…
Exigem-me, porém, plácido,
lasso e langue,
Que corra em mim tal
eflúvio que não o sangue
Que herdei, ainda imberbe,
de meus egrégios avós.
Que invisíveis mãos me
amordaçam a voz,
Me recobrem os olhos de um
cáustico sal,
Me esmagam a alma a querer
ser Portugal?!...
Deixem, por um instante,
que seja nau, e que navegue,
Que às vezes, só partindo,
já é certo que se chegue…
El Rey Ninguém
Nota: foto de Delfim Dias.
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