quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Piriscal Lusitano


Entre as múltiplas e variadas razões
Que explicam que, todos os verões,
Ocorram mais incêndios no interior,
Podiam aventar-se a vegetação e o calor,
Ou até outras, de outra laia,
Mas o que faz com que na praia
Sejam os fogos, por evidência, mais raros,
É que aqui se respeitam os princípios caros
Ao cidadão que tem o seu semelhante
Em tal estima, desde o idoso ao infante,
Que a ponta do cigarro, algoz do arvoredo
Que torna o interior tão naturalmente ledo,
Não pode aqui gozar de igual sorte,
Encontrando, logo que fumado, a sua morte,
Com direito, inclusive, a sepultura nominal,
Inumado, sem mais delongas, em pleno areal,
 Onde, volta e meia, quer o triste destino
Que o exume e leve à boca o inocente menino,
O qual, vindo à praia do seu contentamento,
Aqui descobre, dos adultos, tão javardo exemplo!
Mas p’ra que tal não tão amiúde ocorrera,
Como fora bom que alguém um dia escrevera,
Em cada túmulo improvisado de pirisca,
O correspondente epitáfio. A gente arrisca:
“Aqui jaz, para a posteridade, esta beata,
Que um Beltrano que, quanto basta e farta,
De civismo, dir-se-ia, pouco tinha, ou até nada,
De javardice, em compensação, tinha uma batelada!...”

El Rey Ninguém
(procurando arrepiar caminho 
por entre a floresta de piriscas que juncam
o prazenteiro areal da Praia dos Careanos, Portimão)

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