Sonhos como este,
devem ser menos que um em mil:
O calendário, na
parede escalavrada, acusava 25 de Abril,
E havia nas ruas
como que o ruído
De grito de um povo
oprimido.
Vim espreitar à
janela, curioso, inquisitivo,
Mas, no pavimento,
nem um, sequer, ser vivo…
Que estranha ilusão
em mim se produzia
Àquela incipiente
hora do dia.
Lá fora, o silêncio
sobre tudo,
E, dentro de mim,
um estertor surdo,
Um rugido
insubmisso, uma vozearia
Desde o Terreiro à
Mouraria,
Obra de milhão e
outros tantos.
O ano é 3000 e não
sei quantos,
Os números
diluem-se-me na retina,
Parece-me ver
alguém à esquina,
Mas não,
enganei-me. O crepúsculo
Atiça em mim
qualquer músculo
Susceptível ao
humano
E torna-se
irrelevante o ano;
Só o dia e o mês
Ressoam a qualquer
coisa, ainda, de português.
Pelas sete, há,
como insectos,
Gente a emergir dos
becos,
E o zumbido que o
ar vergasta
Vai desde ali até à
Praça,
Multidão que quase
se atropela, incauta,
Movida por não sei
que flauta.
Por qualquer rua ou
viela,
A multidão é mar
que encapela
Ou rio que
serpenteia em S,
Desagua, em pleno
estuário, e desaparece…
Que estranha forma
de vida
É ser corrente
diluída,
Gota que noutra se
imiscui,
Um ser que se
liquefaz e dilui,
E, dentro de mim,
abissal,
A consciência de um
Portugal
Que a luz diurna
pulveriza,
No sonho, apenas,
se concretiza,
É só pó de
relicário,
Folha mil vezes
caída, ainda, do calendário,
Um canto chão e
varonil
E ainda à espera de
ser…Abril.
El Rey Ninguém
Em jeito de homenagem a quem crucificou carne e espírito
na luta pelos direitos dos trabalhadores.
Nota: imagem
retirada de http://criominhavida.blogspot.pt/2009/05/dia-do-trabalhador.html
Gostei ! Tens de vir aqui ao CNO ao Ler + ( tipo tertúlia ) às 5ªs ( última 5ª de cada mês ) lemos e gostamos de poesia : ) manela paulo
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