A novidade é que o Bento
XVI
Foi de inventar novo
artifício,
E virou fazedor de leis
Para o presépio natalício!...
P’ra começar: a vaca,
fora!
Basta chamar alguém de vaca
Para se perceber na hora
Que só é coisa que se
faça
A quem trabalhe por fora,
Naquele mester secular
A que uns chamam
prostituição.
Ter uma vaca ali a assoprar
Ao Menino Jesus, isso
não!
E quanto ao burro, está
visto,
Ainda menos razão p’ra
sorrir,
Até porque o burro é bicho
Que vacas, amiúde, acabam por parir…
Reis Magos, também não
fazem falta,
Reis são coisa de
monarquia,
Desde a Revolução
Francesa que a malta
Vem preferindo a
democracia.
Quanto a S. José, que
dizer?,
Não chega a ter papel
activo,
E que diferença pode
fazer
Um pai que só é pai putativo?
Pior seria, muito pior,
bem entendido,
Ter uma mãe, com licença,
putativa,
Oh quão ficaria o Menino
mal servido!...
Se é puta ou não, da fama não se livra,
Mas tal não é o caso da
Virgem,
Pois, como o próprio nome
indica,
É pura, e se é como
dizem,
Minha pluma assim se
fica.
Isso mesmo! O Menino e
sua Mãe
É quadro que traz
consolo,
Mas p’ra ficar mesmo bem,
Ponham-lhe o Menino ao
colo!
Assim, só resta a palha,
como sabeis.
O que lhe havemos de
fazer?
Pois dêem-na ao Bento
XVI,
Que dela faça o que
entender!...
El Rey Ninguém
(numas palhinhas
esparramado...)
Nota: ilustração da autoria de AJ Caseirão, in "Desenho: Santos, Clérigos, Beatas e Irmãs Incorruptíveis".