Arre, despachem de vez a reunião!,
Que estou aqui c’uma aflição,
Uma dor que me estala o coiro –
A cabeça a querer dar um estoiro?
Não!, isso não me parece que seja,
Mas é uma coisa assim, que lateja,
Que se me alojou na pele,
Que mói, tortura de forma cruel,
Vai e vem, nuns valentes solavancos,
Ora desaparece, ora regressa, nuns arrancos…
Será que é peso de consciência?
Não preenchi uma grelha?! Paciência…
Um homem não apaga tudo o que é fogo!
Ai que vontade de dar às de Vila-Diogo…
Porra, catano!, despachem a reunião!
Espera aí… mas que horas são?
Olho pró relógio: é um ananás
Cujos ponteiros giram p’ra trás,
Caramba!, devo estar em delírio,
Oscilo, sinto ligeira falta de equilíbrio,
O suor escorre, em bica, pela testa,
Instala-se o delirium tremens – olha que esta! -,
Deve ser efeito do despacho normativo n.º xis,
Devem ser as metas cumpridas por um triz,
Os pedidos de autorização, o plano de actividades…!
Ah!, perdoem-me todas estas leviandades,
Acabem só é com esta reunião estapafúrdia,
Já estou c’os nervos numa balbúrdia,
Acabem, acabem com ela, stop, finito!,
Apiedem-se deste corpo moribundo e hirto!...
O que é agora, meu Deus?, sinto que já sucumbo,
Barcaça em largo oceano sem rumo,
A pouco e pouco, apago, resvalo pró abismo,
E o corpo contrai-se-me… ugh!, um paroxismo!
Regresso depois, vagamente, ao túnel de luz,
Como ascendesse aos céus da própria cruz,
E, já em pé, através, nas coxas, de um suspeito calor,
Seguro já do que seja, embora sem ver a cor,
Descubro o trágico porquê de tal penar:
Afinal, era só uma indómita vontade de cagar…
El Rey Ninguém
(às vezes, pouco – ou muito – se cagando…)
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