(Ou um ensaio sobre a
aplicação alternativa
de Reumon Gel em casais idosos)
—
Quando, sobre a pele, me disseminas
Uma
bem medida noz de Voltaren,
E
sinto o calor de tuas mãos, atrevidas,
Todo
eu me incendeio, qual querosene!
Invade-me
o corpo (ora decrépito)
Um
furor imenso, sem igual,
E
o velho pistão, de súbito lépido,
Começa,
miraculosamente, a dar sinal!...
Ah,
todo esse tempo que já foi
Parece
agora que voltou, que vem vindo,
Até
tesão é de mais, até dói…
De
facto, enrijece-se-me o cilindro
De
maneira que é tão, mas tão insólita,
Que
julgara obra, claro, do rigor mortis,
E
assim, nessa zona outrora inóspita,
O
latino mote citius, altius, fortius
Floresce,
vigoroso, alastrando, qual mito redivivo:
Haste
firme, coroando-a ápice vermelho
(Logo
ele!, que durante tempo infindo
Coabitou
co’ a rótula do meu joelho!...)
Ouve-me,
mulher: larga as canadianas,
Manda
àquele sítio essa penosa artrite,
Desnuda,
uma vez mais, tuas preciosas mamas,
E
sê minha, só minha, querida Afrodite!...
—
Ó homem, ouvir-te esse rol de palavras,
Ser
testemunha de todo esse inflamado clamor,
Faz-me
crer noutras, já pretéritas jornadas!
Mas
meus úberes, outrora sitos no Equador,
Desceram
p’ra outras, mais meridionais latitudes…
Mas
isso que importa? Vou reerguê-las,
Tal
e tanto, que vê-las-ás com outro zelo,
Achá-las-ás
deveras mais, oh quão mais belas,
Após
borrifá-las co’ a laca do cabelo!
Mas
não me ficarei por aí, fiel amado…
Vou
pôr-me em poses que semelham actrizes,
Deixar-te-ei,
a meus pés, assim prostrado –
Mas
por pouco tempo, por causa das varizes…
—
Oh amada minha, pões-me tão, mas tão louco,
Sugas-me
c’ o teu deficit circulatório!
Mas
isso não é nada, é ainda pouco…
Anda,
vem comigo! Partilhemos um supositório,
E
p’ra que tudo siga sendo assim, tão bom,
Depois
de uma bela limpeza, co’ a algália,
Tomemos, p’ra refresco, un shot de Ben-U-Ron,
E
rematemos c’ um bife na Portugália!
—
Oh meu amor – amor pujante, robusto –,
Na
penumbra do meu viver, vieste como o Sol,
Tal
que teus intentos não enjeito, não frustro…
Um
bife, sim!, mas tal que atice o colesterol,
Nos
faça disparar, absurdamente, a tensão arterial,
Que
chegue, a máxima, pelo menos aos 19!
Não
vejo prelúdio, entre nós, mais sensual
P’ra
que empreendamos ousado 69!...
—
Oh musa de minha renascida velhice,
Como
minhas mãos buscam – ávidas, sedentas, sôfregas –
A
côncava redondez de toda tua íntima superfície!
Só
de pensá-lo, quedam-me as pernas trôpegas!
Ardentemente,
desejo-me envolto nessa tua flacidez,
Em
tuas rugas, desabridamente, fazer montanha russa,
Enfiar
(prevenindo todavia destempada gravidez),
Na
viril espada, de látex, a carapuça,
E
comer-te, comer-te, comer-te – toda, por inteiro! –,
P’la
frente, por trás, de cernelha, de espaldas,
Bastando,
mal sintas a extremidade do ponteiro,
Que
ligeiramente afastes tuas volumosas fraldas!
—
Deus meu! Deixas-me perdida, sem rumo!
Antecipando
mil e uma intermináveis posições,
Toda
eu me rendo, toda eu sucumbo…
Que
se fornique a coluna, à fava c’ as articulações!
Trata-me
como eu gosto, de forma assaz cruel,
Chama-me
nomes – cota, velhota, até de cabra! –,
Vai
buscar a porra do Reumon Gel
E
vamos, de vez, curtir à brava!...
El Rey Ninguém
Nota: imagem de AJ Caseirão (in "Desenho: Figuras Reclinadas [Mini])