terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Nova Mitologia da Velha Europa

Ah quem me dera um dia acordar um Mário Piegas (Mário da parte do pai, e Piegas da parte de ser português…), e declamar assim, à boca cheia, um poema, sei lá, talvez como… este:

Há muitos, mas mesmo muitos anos atrás,
Ainda bem antes do tempo do Luís Vaz,
Caminhou, sobre o que é hoje a velha Europa,
Um deus, que vagueava, sem destino e sem rota,
Procurando apenas, com tanto tempo de sobra,
Um recanto onde deixar feita a sua obra.
Este deus, por ser importante, era o deus Capital,
E conta-se que, andando, chegou por fim a Portugal,
Onde se sentou, à sombra, a repousar,
Num ponto donde via planura e mar.
Mirando, além, a planície encardida,
Lobrigou, num chaparral, a que era Árvore da Vida,
Mas como outros deuses já ali tinham passado,
Tal Árvore não era mais que um tronco mal amanhado
E, já esqueléticos, uns não sei quantos galhos retorcidos,
Sem folhas que se vissem, cheios de nós mortiços,
Pelo que o deus Capital muito se entristeceu,
E assim esteve, taciturno, até cair o breu…
E o frio que se fez sentir era de tal maneira
Que, de alguns galhos, o Capital ateou uma fogueira,
Para melhor suportar a dureza austera das condições
Que o acossavam desde todas as direcções.
Ao outro dia, enfim recomposto, o deus Capital
Já tinha outra disposição, e, como tal,
Deu-lhe a ideia, estando à cauda da velha Europa,
Pois (e era chegado o momento) de deitar mãos à obra!
E como deus que, afinal, era e podia,
Num gesto da mais pura criação e magia,
Pegou nos paus que sobravam e tinha à mão
E mandou-os, Europa fora, com a missão
De que, onde quer que chegassem, e por juramento,
Erguessem o que deveriam baptizar de parlamento,
Lugar sagrado e que deveria servir para algo
Tão importante como era, para o deus, a arte do diálogo,
Ou, se preferirem, e sem fugir ao que a história reza,
O lugar onde, afinal, o que mais há é conversa!
E foi assim que chegaram, inclusive a este nosso Portugal,
Ao parlamento, os paus mandados do Capital!...

El Rey Ninguém
(num dia em que se chegou 
particularmente afoito… a pieguices!)

1 comentário:

  1. Ah, a velha europa, de tão velha e ferrugenta deixou-se seduzir pelo Apolo ( capital), este afoito e sem fôlego para tantas cavalgadas arranjou uns paus mandados que lhe fazem o serviço. Estes parlamentando e conversando, melhor escrevendo com muita lábia, vão sodomizando a carneirada que , ainda por cima, acusam de pieguice. Pois esperemos que uma nova mitologia salve os carneiros serviçais de um Coelho Troicado e engraxador do capital.
    Já chega, o que eu queria dizer é :
    Parabéns pelo post.
    Abraço,
    Luís Sérgio

    ResponderEliminar